"Rebel Heart": Madonna promove miscelânea de truques pop que beira o rídiculo, mas que satisfaz seus propósitos

18/03/2015 13:19

Em raros momentos Madonna realizou trabalhos musicalmente relevantes, no entanto a cantora sempre foi importante como personagem pública e celebridade. Encarar um álbum de Madonna pela perspectiva puramente musical é perder de vista as reais intenções de seu trabalho. A Rainha do pop foi a precursora de quase todos os truques para chamar atenção na década de 1980 e 1990: a canção blasfema, o escândalo matrimonial, a hipersexualização. Na década de 2000, o que era uma bravata meritória, devido a seu ineditismo (ao menos junto a seu público alvo) e ao empoderamento feminino resultante desses comportamentos, tornou-se de vez uma farsa conservadora. Madonna resistiu ao envelhecimento, e se isso é comercialmente bom, é socialmente desastroso. De empoderadora feminina por meio do sexo ela tornou-se algoz do envelhecimento ao reproduzir uma noção errônea de obrigação feminina de eterna juventude.

Rebel Heart é um álbum dessa Madonna pós-2000: uma celebridade envelhecida que força uma participação em um grupo. Dizer que a rainha pop é superior que sua concorrência direta é atestar o óbvio, e trazer a discussão a um ponto muito bobo. Esse novo álbum, porém, funciona melhor que seus antecessores, não devido à qualidade, mas sim à quantidade e variabilidade. Rebel Heart é uma miscelânea de truques pop: alfinetadas na música sacra, elementos do trance requentados, ska pop requentado, Hip Hop, referências ocultistas, pop confessional, e letras que são recheadas de lugares-comuns e frases de ordem clichês como “Love is gonna lift me up” ou “you only knew how much you loved me when you lost me, didn’t you?”.

Questionar a musicalidade do álbum, no entanto, é, novamente, perder de vista as intenções do trabalho atual da cantora. O que Madonna realmente pretende é manter o poderio sobre seu público alvo, público esse que não tem boas opções na concorrência. Resultado: apesar das canções muitas vezes beirarem o ridículo, elas são suficientemente empolgantes para conquistarem após poucas audições, e se nada ali é realmente interessante musicalmente (como foram os álbuns Ray of Light ou Erotica) esse disco acaba por ser a coisa mais interessante que ela lançou nos últimos 10 anos. A pluralidade das canções é um grande trunfo. A versão mais estendida do álbum chega a ter 24 faixas, a mais curta ainda tem 14. É um disco longo, onde ela faz uso de praticamente todas as técnicas possíveis para conquistar o mercado pop, tanto as imortalizadas por ela nas décadas passadas quanto as desenvolvidas por outros artistas mais recentes.

Rebel Heart é, musicalmente, uma gororoba requentada, porém serve a seus fins, e acaba sendo uma ótima mistura do que Madonna já foi com o que ela atualmente deseja ser. Um caso curioso de álbum fraco que é bem sucedido em sua proposta. Se ele é musicalmente inferior a Ray of Light, Erotica e True Blue, ao menos ele é uma experiência mais interessante que MDNA ou Hard Candy

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Karla Edelweiss | 22/03/2015

Morro de preguiça de parar pra ouvir as divas mas vou dar uma sacada ;)